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ENTRE PORCOS, CÃES E OVELHAS

ENTRE PORCOS, CÃES E OVELHAS: 
UMA ANÁLISE SEMIÓTICA DO ÁLBUM ANIMALS (1977) - PINK FLOYD       

         Anos depois de o primeiro cogumelo atômico ter brotado no Japão, a América tornava-se a verdadeira terra prometida, um paraíso de praias, Cadilacs rabo de peixe, hambúrguer e televisão. Com o estouro da primeira guerra mundial levando milhares de jovens ao front de guerra a América jamais poderia imaginar surgir em meio aquele caos uma revolução no modo de pensar de uma juventude sedenta por voz, onde o termo delinquência juvenil, no entanto fora amplamente difundido mais precisamente nos Estados Unidos por aquela sociedade que entre seus muitos cidadãos partilhavam os primeiros ideais de contestação à forma cujo quais os governantes dirigiam o país. Piero Scaruffi em seu livro The History of Rock Music 1955-1966 (2005) mostra que a lista de pretendentes ao título de fundador do Rock é extensa relatando no livro o surgimento do primeiro tipo de Boogie Wooggie por The Fatman (1949) seguido do pianista Roscoe Gordon inventor do Ska em Memphis no Tenesse, estes segundo Scaruffi receberam o título de ‘’Shouters” pelo modo como entoavam as canções. O termo Rock que ainda não era adotado ganhou status a partir do Disc Jóquei Alan Freed no ano de 1951 que nas ondas do rádio proferindo o nome de seu programa – Moondog Rock n’ Roll Party deu start ao novo estilo musical, que, até então sem nome já encantava os ouvidos de quem ouvia. Mesmo sendo Bill Halley e sua banda The Comets no ano de 1952 por muitos considerado um dos pais brancos do rock Chuck Berry com a técnica de T Bone Walker e o ritmo do Boogie Woogie marcava presença nos palcos em meio a uma época de segregação racial. Numa sociedade racista marcada pelo apartheid social em que brancos não possuíam os mesmos direitos que brancos fora percebido que os brancos detinham o dinheiro, mas eram os negros que faziam o Rock Music acontecer, com seu embalo excitante segundo afirma em seu livro Piero Scaruffi (2005).
         As inovações tecnológicas também tiveram profunda importância na consolidação do rock a exemplo do desenvolvimento de um dos maiores símbolos do estilo musical, a guitarra elétrica. A primeira guitarra elétrica  feita por Léo Fender, um modelo Stratocaster de 1950 que como instrumentista sabia bem o que musicistas desejavam quando uniu uma boa madeira a componentes elétricos. Outra importante gigante no ramo das guitarras foi a Gibson que da mesma forma que Fender, mas com outros tipos de madeira desenvolveu a Les Paul no ano de 1952.
              Barulho excitação e movimento são de fato as principais vertentes do rock que se mostra além na medida em que desde seus primórdios este inquietamento acontecera não apenas como uma simples agitação, mas como uma forma da construção da visão de mundo, politizando aos quem ouvia mas também pondo à mesa as contradições em que se encontrava aquela sociedade da década de 50.
           Das chamadas e respostas dos cantos africanos ao desenvolvimento científico desaguado na utilização das novidades tecnológicas, nasceu o filho quase tão rebelde do rock, o rock progressivo que para além de uma singela união entre música clássica e tecnologia compreendia também a entrada de elementos da música erudita. Das esquinas e bares de Louisiana o rock estadunidense e seu caráter marginal atravessou o atlântico para se formar na Europa onde em conservatórios se desenvolviam os músicos de rock progressivo, imprimindo um caráter de música contemporânea, mas com suas raízes no rock de vanguarda. Paul Friedlander em seu livro Rock: a social history (1985) relembra que três acordes e uma letra ritmada já não eram o alvo daquele novo tipo de rock, pois as músicas de concerto, suas texturas e riqueza de detalhes influenciariam diretamente o rock progressivo conferindo assim um status mais elitista  em relação ao old rock . Uma transgressão comportamental é o que percebo no rock dos seus primórdios aos seus sucessores, pois paralelamente ao jazz a extrapolação das barreiras rítmicas e tonais se institui na formulação do rock progressivo onde se percebe a transgressão aos padrões melódicos e estruturais fazendo uso também da experimentação. Com um espírito minimalista, mas sobretudo contestador as questões abordadas pelo novo tipo de rock eram também mais profundas e que geralmente traziam reflexões da vida humana, tabus, metafísica oriundas das percepções daqueles músicos que por sinal detinham alta capacidade de reflexão.   
          Por vezes o rock foi de fato a forma mais eficiente de contestação onde várias bandas utilizaram os embalos deste estilo musical para protesto compreendendo assim um novo tipo de rock com caráter político e contestador, o rock progressivo
         À medida que percorro no contexto histórico percebo que ruptura se mostra como o termo mais plausível quando se busca uma definição do rock progressivo, muito pelo caráter antitotalitário influenciado pela contracultura. Totalitarismo que nas palavras de Ana Harendt em seu livro As origens do totalitarismo (1979) se mostra como uma onda antidemocrática e pró-ditatorial de movimentos totalitários e semi totalitários cujo qual varreu a Europa onde da Itália disseminaram-se movimentos fascistas para quase todos os países da Europa central e oriental que nem mesmo Mussolini, embora usuário da expressão "Estado totalitário'*, tentou estabelecer um regime inteiramente totalitário.
            Foi nesta época (década de 60)  em meio a conflitos sociais que os universitários Bob Klose e Roger Waters uniram se a Nick Mason e Rick Wright para a produção de Folk rock, onde mais tarde com a entrada do exêntrico Syd Barret fundaram a banda como o nome de Pink Foyd, uma homenagem às influências dos músicos Pink Anderson e Floyd Council dois dos maiores nomes do blues norte americano. Com a saída de Bob Klose em meio a uma crescente popularidade o Pink Floyd sofre uma perda significativa de um de seus membros que pelo abuso no uso de drogas Syd Barret, um dos principais motores criativos na banda foi convidado a se retirar, dando espaço a outro componente, o guitarrista e vocalista David Gilmour. Com formação consolidada canções homericas, virtuosidade, capas conceituais e performances espetaculares fizeram do Pink Floyd um ícone que para além de uma singela homenagem a dois dos maiores nomes da música blues se mostra também como um dos maiores sub produtos do rock, o rock progressivo.
         Nos anos de 1975-1976 que antecederam a produção do álbum Animals (1977) já se observava críticas existenciais de uma nova cultura em que provavelmente se corroboravam planos corporativos para manterem consumidores sem opinião, alienados, mas confortavelmente felizes. A despedida musical de John Lennon em Altamont também influenciou na percepção de parte daquela sociedade sobre o idealismo musical, fazendo as massas cantarolarem entre um comercial de tv e outro (George A. Reisch, p.18).
         No ano de 1977 a banda Pink Floyd lança o décimo primeiro álbum da carreira – Animals(1977) - com progressividade, minimalismo e os vários sentidos decorrentes de uma obra conceitual. Conceitual no sentido de que o álbum, mesmo trazendo a música como pano de fundo se vale também de uma experiência visual, no uso de encartes com imagens abstratas, longas melodias e um enredo com influências possívelmente orwellianas.




Rui Charles Santos

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